Notícias UFSC – Obrigatoriedade da extensão em cursos de graduação deve ampliar interação da UFSC com a sociedade

02/07/2021 11:16

Atividade do projeto de extensão “Exposições itinerantes de Anatomia Animal”, do Laboratório de Anatomia Animal da UFSC Curitibanos com alunos da educação infantil. Foto: divulgação

Nove cursos de graduação da Universidades Federal de Santa Catarina (UFSC) começaram este semestre letivo com pelo menos uma novidade em seus currículos: a inserção de uma carga horária obrigatória de atividades de extensão – ações que deverão ser realizadas pelos estudantes junto à comunidade externa. A mudança curricular atende a uma determinação do Ministério da Educação (MEC) e, até dezembro de 2022, deve ser implementada por todos os cursos de graduação do país. Na UFSC, a expectativa é de que o processo amplie a interação da Universidade com a sociedade, bem como as possibilidades de aprendizado, com projetos que contemplam os mais variados públicos – oficinas para escolas, ações junto a agricultores e silvicultores, trabalhos com empresas de diferentes portes, atendimento em serviços de saúde humana e animal e muitos outros.

A inserção de uma carga horária mínima de atividades de extensão na graduação foi proposta no Plano Nacional de Educação, que determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional brasileira no período de 2014 a 2024. A regulamentação do tema veio em 2018, com a Resolução nº 7 MEC/CNE/CES, que estabelece que as atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% do total da carga horária dos cursos.

Mudar a grade curricular das 120 graduações que a UFSC oferece não é uma tarefa simples e demanda muito planejamento. O assunto é discutido na Universidade desde 2016, e, mais intensamente, a partir da criação da Comissão Mista de Curricularização, em agosto de 2018. O grupo vem trabalhando para promover a incorporação da extensão nos currículos dos cursos de graduação, com estudos, eventos, capacitações e reuniões, entre outras ações. Em março de 2020, foram aprovados os dois documentos que orientam o tema na instituição: a Resolução Normativa nº 1/2020/CGRAD/CEx e o Ofício Circular nº 2/2020/DEN/PROGRAD.

Para apoiar o processo, a Pró-Reitoria de Extensão (Proex) destinou R$ 1,12 milhão por meio de dois editais que abarcam projetos de sete centros de ensino, além de R$ 10 mil para cada um dos nove cursos que já implementaram a carga horária de extensão em seus currículos. Os demais oito centros serão atendidos em outros dois editais, com datas de lançamento ainda a definir. A Proex estima que o investimento total será de R$ 1,59 milhão. Todos os valores são provenientes de recursos próprios da UFSC, decorrentes de ressarcimentos institucionais devidos, entre outras situações, por ocasião de convênios e contratos com entidades públicas ou privadas pelo uso do capital intelectual, do nome, da imagem, dos serviços e das instalações da Universidade.

Novas formas de ensinar e aprender

A diretora do Departamento Administrativo de Extensão da Proex, Graziela De Luca Canto, considera que a inserção da extensão nos currículos proporcionará um novo modo de ensinar, que contempla de maneira mais intensa essa troca de saberes com as comunidades. “Isso já é feito há muito tempo, principalmente nos cursos da saúde. Há muito tempo, os alunos vão para os centros de saúde, para os diferentes bairros, atender a comunidade. O que o HU faz é uma atividade de extensão. O que as clínicas da Odontologia, da Fonoaudiologia, da Fisioterapia e da Medicina Veterinária fazem são atividades de extensão. O Direito tem o Escritório Modelo, que é uma atividade de extensão. Mas a gente tem muitos cursos, principalmente das áreas tecnológicas, que não têm toda essa interação com a sociedade ainda”, ressalta.

“Acho que é uma grande revolução na educação, e isso vai diminuir com certeza nossa evasão escolar, vai mudar a forma como os alunos aprendem, como eles se comunicam com a sociedade”, reforça Graziela. Ela lembra também que as mudanças podem oportunizar o reconhecimento de uma variedade de atividades das quais os estudantes já participam, como ligas acadêmicas, equipes de competição e empresas juniores.

Ciência nos laboratórios, na escola e na comunidade

Laboratório de divulgação científica oferece exposições e oficinas para o ensino básico. Foto: divulgação

Os três cursos de Química com sede em Florianópolis – Licenciatura, Bacharelado e Tecnológica – estão entre os que já aplicaram as alterações na grade curricular, que passaram a valer a partir do primeiro semestre letivo de 2021. Para completar sua carga horária de extensão, os alunos participarão de dois programas: Química e Sociedade e Quimidex: a divulgação da ciência em ambientes temáticos explorando temas do nosso cotidiano, ambos vinculados a disciplinas obrigatórias. Adicionalmente, os acadêmicos poderão escolher outros projetos para participar, tanto do Departamento de Química quanto das demais áreas da Universidade.

A Proex disponibilizou R$ 30 mil para a implantação da curricularização da extensão nos três cursos. Parte do valor será direcionado para a estruturação do programa Química e Sociedade, que irá compreender atividades relacionadas ao tratamento de resíduos e à química ambiental. Um galpão que já foi utilizado como laboratório de química fina e que atualmente está em desuso será limpo, pintado e equipado para receber o projeto.

“A gente está imaginando criar um espaço onde os alunos possam ir para preparar os materiais com os quais eles vão levar a extensão à comunidade, porque a gente vai trabalhar com esses temas dentro da comunidade. Quais são os problemas ambientais no entorno da universidade? Como a química pode ajudar? A partir do desenvolvimento das ideias que vão vir dos estudantes, a gente vai montar a parte química para levar para a comunidade. Pode ter um espaço de laboratório, um espaço em que os alunos possam sentar e fazer as produções, reuniões e discussões. E também para chamar a comunidade para conhecer. Não só irmos à comunidade, mas também trazer a comunidade até nós”, explica a professora do Departamento de Química Anelise Maria Regiani.

Química dos perfumes é tema de exposição permanente do Quimidex, localizado no térreo do Bloco EFI, em Florianópolis. Foto: divulgação

Outra parcela dos recursos será investida em melhorias na infraestrutura do Quimidex – um laboratório de divulgação científica localizado no térreo do Bloco EFI (Espaço Físico Integrado). Com mais de 20 anos de história, o Quimidex exibe uma exposição permanente sobre a química dos perfumes e mostras temporárias sobre assuntos diversos, além de receber alunos do ensino básico de todo o estado para oficinas temáticas experimentais e de servir de espaço para formação continuada de professores e profissionais de química e para visitações de graduandos de diversos cursos (incluindo pedagogia, design e museologia) e até de outras instituições. O ambiente está fechado durante a pandemia, mas docentes e alunos seguem divulgando a ciência por meio de vídeos e postagens no Instagram.

A ideia é finalizar uma reforma iniciada em 2019, adquirir materiais permanentes e aprimorar a ambientação para melhor acolher os visitantes. “O que precisa é melhorar a ambientação do espaço de oficinas. Então, por exemplo, a gente tem a ideia de colocar uma grande tabela periódica em toda a extensão da parede; e precisa melhorar a parte onde faz a projeção de filmes e imagens, colocar o nosso quadro para poder escrever as explicações, ajeitar as bancadas e as divisórias, deixar o ambiente mais acolhedor. Por enquanto as paredes estão brancas, não conseguimos finalizar. Vamos deixar com uma carinha de laboratório, com cara de química, para poder receber as escolas”, comenta Anelise, que faz parte da equipe de coordenação do Quimidex.

Ações regionais

Oficina sobre práticas agroecológicas para produtores e consumidores da feirinha dos produtores agroecológicos de Curitibanos é uma atividade vinculada a disciplinas obrigatórias dos cursos de Agronomia e Engenharia Florestal. Ambos já aprovaram a inserção da extensão no currículo. Foto: divulgação

Não é só a população da Grande Florianópolis que irá se beneficiar da ampliação das atividades de extensão. Os campi de Blumenau, Curitibanos e Joinville também já foram contemplados nos editais da Proex voltados à curricularização da extensão, com R$ 140 mil cada, e o Campus de Araranguá será incluído no quarto edital.

O programa Curricularização da extensão: fortalecendo a formação acadêmica do Campus de Curitibanos/SC, por exemplo, integra os três cursos de graduação do Centro de Ciências Rurais – Agronomia, Engenharia Florestal e Medicina Veterinária – e engloba diversas atividades, como a Clínica Veterinária Escola, visitas em Unidades Básicas de Saúde, procedimentos de diagnóstico de doenças infecciosas, coleta de solos em propriedades agrícolas e florestais para identificação de problemas de fertilidade e recomendações de manejo, educação ambiental, arborização urbana, elaboração de projetos de irrigação para agricultores, exposições itinerantes das coleções botânicas e de peças anatômicas de animais, etc. Também serão organizados cursos e eventos para os mais variados públicos, incluindo silvicultores, produtores rurais e estudantes das escolas da região. Os recursos recebidos da Proex serão aplicados na aquisição de material permanente e de equipamentos de suporte a eventos externos, cursos e oficinas.

Campus de Blumenau também irá investir no fortalecimento e na ampliação de programas de extensão já existentes e na criação de novos. Seu projeto traz uma série de atividades envolvendo escolas, prefeituras, microempresas, ONGs, médias e grandes empresas, parques e bairros do município de Blumenau e região. Realizadas na forma de cursos, eventos e workshops, e pensadas a partir das matrizes curriculares e com participação ativa dos alunos na sua realização, elas buscam apresentar e disseminar o conhecimento científico e tecnológico produzido no campus.

Segundo o coordenador da comissão que elaborou a proposta, Felipe Vieira, além de trazer mais segurança para a execução dos projetos, o orçamento específico para a extensão será utilizado para melhorar a infraestrutura da UFSC Blumenau. “Essa verba vai também ajudar o campus a se preparar para receber mais visitas da comunidade, equipando melhor seus espaços vinculados às atividades de extensão”, afirma.

Benefícios para estudantes e toda a sociedade

Anelise conta que é visível o aumento da motivação dos estudantes que interagem com a comunidade por meios dos projetos de extensão: “Mesmo antes desse processo da curricularização, antes de a extensão ser obrigatória, quando os nossos alunos participavam dos projetos do departamento, a gente já percebia que eles se encantavam mais pelo curso, pela ciência e pela profissão que escolheram. Eles passavam a ter certeza que estavam no curso certo”.

“A curricularização da extensão agrega muito valor na formação do nosso profissional, porque, ao sair da universidade e olhar para a sociedade, ele vê a Química como campo de trabalho aplicado na sociedade, não é só um campo de pesquisa. Eles saem daquela imagem do químico como um pesquisador que veste um jaleco e fica sozinho. Eles se encontram profissionalmente dentro da sociedade. E isso é muito bacana”, complementa a docente.

Oficina didática sobre conservação dos recursos naturais a alunos de ensino médio do município de Curitibanos, também vinculada a disciplina obrigatórias de Agronomia e Engenharia Florestal. Foto: divulgação

A opinião acerca dos benefícios para a formação dos futuros profissionais é compartilhada por Karina Soares Modes, coordenadora de extensão do curso de Engenharia Florestal e do programa Curricularização da Extensão: fortalecendo a formação acadêmica do Campus de Curitibanos/SC: “As atividades extensionistas realizadas nas diferentes modalidades serão tomadas como um exercício técnico e também de comunicação para que os estudantes adquiram e demonstrem um conjunto de habilidades e competências fundamentais à sua imersão no mercado de trabalho”.

E não são só os graduandos que desfrutam dessas práticas, na visão de ambas. Segundo Karina, a curricularização da extensão deve contribuir para a maior integração da sociedade com a Universidade e estimular os estudantes a atender às demandas da comunidade. “A perspectiva é de que, com a divulgação das atividades de extensão realizadas e propostas nos meios de comunicação do município de Curitibanos e região, ocorra um engajamento cada vez maior da comunidade nas ações de extensão promovidas pelos cursos do Centro de Ciências Rurais da UFSC e uma abrangência cada vez maior das iniciativas de assistência vinculada às demandas da sociedade”, avalia.

“A comunidade, quando recebe os nossos projetos de extensão, as nossas atividades, tem um ganho muito grande também, porque a própria comunidade passa a olhar o seu entorno com olhos diferentes”, destaca Anelise. Ela salienta ainda que essa é uma via de mão dupla: “Ao mesmo tempo em que os nossos estudantes estão ganhando em formação, a sociedade está ganhando nesse comprometimento do profissional, nesse novo olhar para o entorno, nesse novo olhar para o mundo em que se vive”.

Mais informações sobre o processo de inserção da extensão nos currículos de graduação da UFSC podem ser acessadas no site curricularizacaodaextensao.ufsc.br.

 

Camila Raposo/Jornalista da Agecom/UFSC

Obrigatoriedade da extensão em cursos de graduação deve ampliar interação da UFSC com a sociedade